BARRA NO MEIO

"Loucura é fazer as mesmas coisas todos os dias e esperar que seja diferente!"

Terapia -Porque fazer?

Terapia -Porque fazer?

Psicoterapia: Animação mostra a relação Psicologo e Paciente

Individuação no processo de ambivalência na relação mãe e filha .






















Processo de individuação Onde descubro quem realmente sou e amplio a consciência . 



Iniciada muitas vêzes tardiamente, já na idade adulta e não na adolescência como é usual.







É O PROCESSO NECESSÁRIO PARA SE CHEGAR À VERDADEIRA LIBERDADE.







Esse processo necessário muitas vêzes é prejudicado por pais e ou mães que não vivem suas próprias vidas e de certo modo "usam " a vida dos filhos ou por filhos que não desejam crescer e assumir responsabilidades com a própria vida.



Quando esse indivíduo boicota o seu próprio processo de libertação, ele costuma projetar seu lixo interior com inverdades, usando a desculpa de estar cercado de pessoas manipuladoras ou invasores da sua vida - é um ato de expurgar seu próprio desamor.



Talvez o conceito mais importante da psicologia de C. G. Jung seja o de “individuação” , ou seja, é um processo de diferenciação no qual o indivíduo torna-se aquilo que é.

O avesso da individuação é a identificação ou imitação inconsciente.

Identificando-me com um dado objeto, assumo o seu ponto de vista em detrimento do meu.





 Carl Gustav Jung (1875-1961) O fundador da escola analítica de Psicologia Carl Gustav Jung foi um dos maiores psiquiatras do mundo. Fundador da escola analítica de Psicologia, ele introduziu termos como extroversão, introversão e o inconsciente coletivo.  



Processo de individuação no "tempo certo". 

Por que os adolescentes querem sair de casa?



E você ainda acha que eles não devem?Bem, com uma pitada de exagero, a gente poderia dizer que alguma coisa vai mal mesmo é quando o adolescente não quer sair de casa! Alguns pais resistem ao desejo natural que os adolescentes têm de sair de casa porque se sentem ameaçados, com medo de perder a função paterna.



Vêem esse desejo normal que os filhos têm, de levar uma vida independente, como sendo uma rejeição do seu papel. Isso se complica, por exemplo, no caso de uma viúva, que tenha um filho único, que pretende se casar... A tentação que essa mãe vai ter de sabotar o noivado do filho para ficar com ele e ter companhia vai ser muito grande! Mas isso não é nada menos do que egoísmo, porque na verdade todos nós deveríamos estar criando os filhos para a autonomia. Enquanto existem pais que não autorizam a individuação dos filhos, existem também filhos que não querem sair de casa.



Talvez até você conheça alguém que ficou adulto, mas tem dificuldades para procurar emprego, casar e viver a própria vida. É evidente que isso não reflete o curso normal da vida.



No outro extremo estão aqueles filhos que saem de casa de forma prematura, traumática e/ou violenta, e isso também pode ser indício de sofrimento ou desequilíbrio no sistema familiar. Os psicólogos definem esse processo da saída de casa como sendo o processo de individuação.



Mas para que ele ocorra de forma apropriada e sem traumas, precisa ser precedido por outro: o do pertencimento.



O problema é que quando esse “pertencimento” não existiu, a “individuação” ou não vai acontecer, ou vai ser muito complicada. E se o tal pertencimento é assim tão importante, como é que ele ocorre? Bem, a criança compreende o mundo e a si mesma por meio da família. A sua auto-imagem está muito vinculada à imagem coletiva que ela tem da família.



Ela percebe, nem sempre de forma consciente, que é um membro do grupo, constituído pelo pai, mãe e irmãos, primos, tios e avós, e que todos gostam e cuidam dela. Os outros adultos a identificam como sendo a filha da dona fulana e do seu fulano, e a criança se enxerga assim mesmo. Quando perguntam quem ela é, a resposta é sempre: “Sou filha(o) do seu fulano.” Sua identidade está ligada à figura do pai e da mãe, enfim, da família. Ela “pertence” a alguém ou a um grupo.



É essa percepção do pertencimento que vai ser muito importante para fortalecer o jovem no processo seguinte, que é o de individuação. Mas quando a criança não recebe atenção dos pais, ou sente de alguma maneira que não é amada, vai haver algum prejuízo nesse primeiro processo, o do pertencimento.



Os pais podem até amar, do jeito deles, mas se a criança não percebe esse amor como sendo incondicional, fica em dúvida quanto a se “pertence” completamente ou não. É lógico que esse processo raramente é consciente.



A conseqüência disso é que quando você não está “dentro” de casa, não pode sair. Quando, por algum motivo, um jovem não sentiu que “pertenceu” à família de forma incondicional, pode ir ficando em casa buscando esse pertencimento, enquanto o tempo passa, à volta da saia da mãe, sempre procurando esse degrau que faltou na escada do seu desenvolvimento emocional.



Às vezes até se casa, mas pode acabar se separando e voltando para casa, porque procura por uma coisa muito importante, que deveria ter acontecido na infância, mas que talvez, por algum motivo, faltou – o sentido de pertencimento! Volta, ou fica em casa, porque ninguém pode deixar de pertencer sem ter pertencido primeiro. Ninguém pode sair de algo em que nunca entrou! Então, para sair de casa de modo saudável, o jovem precisa primeiro ter estado nela, emocionalmente falando, ou seja, ser amado(a) de forma incondicional.





Mas quando o jovem não recebeu da família essa segurança de que pertence ao grupo, de que é amado, aceito, de que os outros membros da família se preocupam com ele, pode então procurar outro grupo do qual consiga obter a sensação de pertencer. Isso ocorre porque como seres gregários que somos, todos precisamos desesperadamente desse sentido coletivo do pertencimento.



Essa necessidade pode (e deve) muito bem ser suprida pela igreja, desbravadores ou pelo pequeno grupo, por exemplo, e muitas vezes é isso o que acontece. Por outro lado, muitos buscam suprir essa necessidade unindo-se a uma tribo de skinheads, de roqueiros, um bando de marginais ou de usuários de drogas.



É para evitar que isso ocorra que os pais precisam prover para os filhos, desde o nascimento, essa segurança de que pertencem incondicionalmente à família, assim com Deus faz conosco. “Nunca te deixarei; nunca, jamais te abandonarei”, Ele diz. “Tu és Meu, Eu te remi”, Ele afirma. Isso vai ser muito importante também para o desenvolvimento de sua auto-estima.



Nessa fase, são muito importantes as palavras de afirmação e as atividades coletivas como os passeios em família, visitas à casa de outros parentes (o coletivo maior), o culto familiar, os cultos de pôr-do-sol (para receber e se despedir do sábado) em família, os aniversários, a ida da família à igreja e outras celebrações que envolvem as tradições da família.



É muito importante também a presença de pelo menos um dos pais em casa quando os filhos estão lá, a supervisão dos deveres escolares, a supervisão das amizades, o cuidado durante as enfermidades, etc., porque tudo isso produz na criança a percepção de que é valorizada, de que ela é importante para o grupo familiar.



Os pais também devem prover condições para que o adolescente possa pertencer a outros grupos não familiares, como os da igreja, citados anteriormente.

Então ele sente que pertence! Mas mesmo recebendo todo esse apoio e segurança da família, o adolescente ainda vai passar por transformações profundas tanto em seu corpo quanto na sua maneira de pensar e de perceber a realidade. Isso acontece principalmente por causa do grande aporte de hormônios que seu corpo recebe nessa fase. Essas transformações é que darão início a um novo processo do seu desenvolvimento, chamado de individuação.





É nessa outra fase que o adolescente percebe que não é apenas um membro da família, mas um indivíduo, um ser humano distinto, diferente do coletivo ao qual já pertence. E como que para provar que não é mais apenas o filho do “seu fulano” e da “dona fulana”, é que ele começa a discordar e a questionar as regras, crenças e costumes da família



É o processo da individuação. São os primeiros sinais de que ele está começando a se “descolar” da família. Mas isso não deve apavorar os pais, porque é um processo normal, esperado. Ou você pensava em criar um E.T. que ficasse para o resto da vida na casa da mamãe? O que conforta é saber que quando o adolescente é respeitado e amado pelos pais de forma incondicional, ele questiona, discorda, mas geralmente, logo depois, em uma fase seguinte, volta a escolher praticamente quase todos os valores dos pais.

Por isso, em lugar de discutir e discordar frontalmente com os filhos adolescentes, os pais precisam aprender a dialogar, a expor idéias e a negociar.



É por isso que as regras formuladas para uma criança precisam ser bem mais rígidas, para que mesmo que haja algum afrouxamento dessas regras na adolescência (e precisa haver), o adolescente ainda fique protegido por limites razoáveis. Quando a criança já tem muita autonomia, os pais quase não tem mais o que negociar depois, na adolescência. Já cederam tudo que podiam, e se não cedem ainda mais, o adolescente fica achando que os pais não dão liberdade alguma. A adolescência deve ser principalmente a fase do diálogo e da negociação.



Os princípios não podem jamais ser negociados, mas algumas regras da casa e da família precisam sofrer alterações ou adaptações. Mas quando a família é rígida demais, isto é, não disposta a modificar algumas dessas regras (sem sacrificar princípios, evidentemente), algo pode não sair bem. Se o adolescente for saudável ou normal, pode provocar rompimentos mais ou menos graves, em busca de maior autonomia.



Se, por outro lado, é muito submisso e “bonzinho”, pode adoecer (até fisicamente – somatização) e sofrer distúrbios emocionais durante a sua vida adulta. Apesar disso, os pais precisam estar conscientes de que o adolescente não está preparado ainda para uma liberdade total, porque sua capacidade de avaliar e de julgar ainda não está completamente desenvolvida.

Então, se ele tiver liberdade muito depressa, e se tiver toda a liberdade de uma só vez, provavelmente não será capaz de enfrentar perigos reais como o uso de drogas, a promiscuidade sexual ou mesmo o sexo antes do casamento, com as suas conseqüências potencialmente danosas para o futuro. É como soltar em uma avenida muito movimentada um cachorrinho que esteve preso no quintal por anos. É morte quase na certa!



Por isso, quando a família está envolvida nesse processo difícil de liberar o adolescente para a individuação, não deve esquecer de que esse processo de liberação precisa ser gradual e mais ou menos lento.



O adolescente sempre vai requerer mais liberdade do que pode realmente ter, e os pais quase sempre precisam ceder um pouco mais do que estariam dispostos a princípio.



E se cada um quiser só ganhar sempre, todos perdem, e fica estabelecido o clima de conflito.



O conflito ocorre geralmente quando o adolescente tenta expandir os seus limites, procura a autonomia, e os pais procuram manter esses limites. Algumas vezes, mesmo sob protestos do adolescente, os limites ainda vão ter que ser mantidos para o seu próprio bem e segurança.



Esses limites podem estar relacionados com o horário de chegada para as saídas noturnas, bem como com o tipo de música ou filmes que serão assistidos em casa, ou o tipo de comida a ser utilizada em casa.



Mas mesmo nesses casos, os pais devem lembrar que os limites devem ser sempre muito mais negociados do que impostos.



É lógico que em momentos extremos, talvez seja necessária alguma imposição (nunca utilizando ameaça de punição física). Mas quando os pais já partem "de cara" para a truculência, a violência e a imposição, sem passar pela negociação, e nem explicam os "porquês", isso tende a criar um ressentimento muito grande no adolescente que está começando a ver a si próprio como uma pessoa, com idéias, sentimentos e pensamentos diferentes dos dos pais.





Ele sempre vai querer saber o porquê. E é justamente nessa fase que o adolescente/jovem vai procurar - e talvez encontrar - a pessoa com quem deve passar o resto da vida, e então, o processo de individuação se completa.





E esse momento já estava previsto não só nos seus genes, mas até nos planos de Deus: “Deixará o homem pai e mãe, se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne.” Gên. 2:24. É nessa hora que os pais devem se alegrar porque completaram o trabalho.



Bons pais não são aqueles que criaram filhos “bebezões” autômatos, dependentes doentios, que não sabem fazer nada sozinhos, que ainda precisam dos pais mesmo quando são grandes.





Bons pais são aqueles que, pela educação que deram, incentivaram a autonomia, e, de maneira altruísta, fizeram a si mesmos cada vez mais desnecessários para os filhos. E é justamente por isso que esses filhos não conseguem mais se esquecer deles!



E acabam voltando...



Pelo menos de vez em quando.



Marcos Bomfim  







OS ABUSOS OU EXAGEROS





OS JOVENS ULTRA-ROMÂNTICOS DE HOJE E O DESEJO DE FUGA Não é difícil em correr os jornais ou noticiários mundanos e esbarrar em tristes fatos de jovens suicidas, viciados; enfim, perdidos em seus mundos bombásticos. É cabível até afirmar que a dicotomia entre o plausível e o irreal, ajuda e muito nas tomadas de decisões impensadas, por parte de alguns jovens de nosso mundo contemporâneo.



Essas pobres almas “ultra-românticas” dilaceradas pelo sistema, devido a suas próprias decepções perante a vida e ao fato de que viver é algo sofrido; condenam-se à perfídia interior projetada por seus próprios conceitos.

Eles acabam por reprovar todo o contexto social em prol do egocentrismo, fazendo com que a busca pela individualização ascenda. Mas, podemos aí concretizar que a individualização pode ser transformada em individuação, ou seja, a busca ideal por seu lugar ao espaço ou a de tornar-se um indivíduo.

Talvez aí é que exista uma confusão entre a individualização e a individuação. Sim, porque a individualização gera o egocentrismo e é a partir de então que a confusão se generaliza. Deixando-os alienados do mundo real e imbuídos em seus mundinhos lutuosos e medonhos. Ao passo que a individuação nada mais é do que se tornar um indivíduo perante não só a massa, mas também perante si mesmo.



Quando existe essa abstenção do mundo real a pessoa torna-se prisioneira de suas idéias, pensamentos, filosofias; que por vezes resultam em ações fatídicas. A luta inconstante entre seus pensamentos e sentimentos, fazem a grande diferença entre eles e as pessoas “comuns”. Sim, pois, pessoas “comuns” muitas vezes, através dessa ótica, são pessoas mais superficiais ou que não entram em conflitos internos tão facilmente quanto essas, sôfregas. Ou, quando entram em conflitos internos, saem de cabeça erguida, o que não ocorre com as mais intrínsecas.



Eles tendem a se vitimizar, a se enxoviar em usas amarguras e decepções; onde procuram ao máximo se distanciar da vida comum e rotineira, onde a única maneira de cessar toda essa sofreguidão, é perfilando no caminho do vício e mais tarde, a morte. Em muitos casos, assim como os ultra-românticos verdadeiros; as lamúrias, o pessimismo, o negativismo, a morbidez; enfim, toda essa gama de inferioridade expressiva, surge através de perdas, de decepções amorosas, de tristeza perante o mundo, de traumas, etc.



A supervalorização e a adoração ao ser amado, a verdadeira coita d´amor; em muitos casos levam ao homicídio (da pessoa amada) e ao suicídio. Deixando, dessa forma, para trás, toda essa gama de sofrimento causado pelas intempéries da vida. A falsa concepção de que a morte é a melhor maneira para fugir dessa realidade brusca; leva muitos jovens a cometer atos imensuráveis para com suas próprias vidas e para com a vida do próximo.





Seria um ato de covardia ou de superação? Somente através de um histórico da vida dessas pessoas é que podemos ter a confirmação se tais atos seriam covardes ou de superação. Aos olhos de pessoas “comuns”, certamente seria um ato de covardia. Pois não há nada melhor na vida do que viver! Do que amar e ser amado.



Pois o Amor, nunca foi e jamais será sinônimo de sofrimento. Mas, para os ultra-românticos, ele o é. Sob uma outra perspectiva, analisando friamente todos os seus anseios, buscas nunca encontradas, amores perdidos, desilusões e decepções concretas; pode-se até valorizar um ato heróico de superação de seu “Eu”. Sim, porque o ego aí é quem deu as cartas; subtraindo todos os seus anseios para si mesmo, deixando a mente e o consciente em segundo plano.



Portanto, num possível suicídio (ou tentativa), o mental torna-se escravo do ego, que se apodera de seu “Eu” e acaba por enfrentar a vida, com a morte; ou a fuga.





A entrega de suas vidas para o vício é outro agravante na triste caminhada desses, que consciente ou inconscientemente se deixam levar pelo ultra-romantismo. O estado de êxtase preparado seja pelas drogas, álcool, exacerbação sexual, dentre outros; não deixa de ser também uma fuga para seu sofrimento.





Através da busca pelo prazer constante, eles deixam de viver grande parte de suas vidas a tentar “sobreviver” por meros momentos de bel prazer. É aí que se perde totalmente a liberdade para com a vida, para com suas próprias leis imbuídas em seu ser. Sim, pois, o modo de agir, os pensamentos, as crenças; todo esse conjunto forma a liberdade do homem, pois a pessoa que não tem esse conjunto, essas leis próprias confundir-se-á a liberdade com libertinagem, princípio esse do início de sua decadência e demência moral e pessoal. E é exatamente aí que essas pessoas se degeneram e esvaem-se do mundo de forma trágica e única.





Voltando um pouco ao princípio de liberdade: O princípio de liberdade chega ao homem, quando esse; ser racional que é, consegue olvidar os aspectos (pré) adquiridos (pré-conceitos, dogmas impostos) no decorrer de sua vida. Ou seja, não se deixa levar por dogmas ou formas de pensamentos impostos em sua consciência desde a infância (e depois em seu subconsciente), para assim saber ou fazer agir da maneira que lhe convir.





Por isso que a educação na primeira infância é importante, para a pessoa desde cedo possa fazer uma auto-reflexão crítica, pois a partir de então todo o caráter acaba por se formar.





Numa sociedade com leis (lembre-se, disse lei e não dogma) o homem torna-se escravo quando elas deixam de existir.







Uma pessoa sem suas próprias leis, é escrava do mundo, de seus medos, pois ela não compreenderá o que se passa em seu interior, acabando, dessa maneira por desrespeitar-se. Mas, deve-se tomar cuidado com o imperativismo ou o caráter dogmático presente, pois as pessoas poderão se sentir sufocadas, fazendo com que a violência possa explodir e a raiva contra a civilização aumentar; onde esta, torna-se alvo de uma rebelião violenta e irracional.        



Um homem sem lei é um homem vazio. by Tiago Tzepesch "Bem-aventuradas as mães que permitem aos filhos e filhas voar" Somos os sábios e as sábias que construíram a casa sobre a rocha.







E quando digo "bem-aventuradas as mães que permitem aos filhos e filhas voar", o faço no sentido de que para muitas mães, e também pais, é difícil deixar os filhos e as filhas alçarem seus próprios vôos.









A gente os quer sempre debaixo de nossas asas e sob o nosso constante olhar.







Precisamos, neste sentido, encontrar a sabedoria do amor que ensina a voar e não a engaiolar.



Para deixar o meu pensamento mais claro, farei uso de um texto escrito por Rubem Alves intitulado "Vossos filhos são pássaros...": "Sei o seu sofrimento.







É o sofrimento de ver os filhos voarem e, no seu vôo, se esquecerem de nós. Desejaríamos que eles, de vez em quando, voltassem - ou que pelo menos olhassem para trás, com um olhar de carinho e gratidão. Gostaríamos que, nos olhos deles, o nosso rosto aparecesse refletido... Mas não.



A gente olha para os olhos deles e não nos encontramos. Encontramos mil coisas: os amigos, as festas, os passeios, o carro, as aventuras...



Mas em tudo isso nós mesmos estamos ausentes. Dói. Dói muito. A alma é uma galeria de quadros. Os quadros são cenas de felicidade.



Gostaríamos que estas cenas acontecessem na realidade. Uma das cenas mais queridas é a cena da família, que aparecia sempre nos retratos antigos: Ao redor, os filhos.





De repente você descobre que sua cena está rasgada. Não há filhos ao seu redor - eles estão andando pelos seus próprios caminhos. E você se sente sozinha, miseravelmente sozinha. Dói mais porque você imagina que a cena que você ama se realiza com outras mães. Você pergunta: "Não é natural que isso aconteça?" Não. Não é natural que isso aconteça.



Faz uns meses acompanhei o que acontecia com um casal de corruíras e seus filhotes. Haviam feito um ninho no meu jardim. Os filhotes já sabiam voar. Menos um. Tentou o vôo. Fracassou. Caiu no chão. Pai e mãe, o pai num galho de árvore, a mãe no ninho, piavam.



Acho que eles estavam dizendo: "Vamos! Tente de novo! Você pode!" O filhote tentou de novo. Bateu suas asas. Voou até o galho onde se encontrava o pai.



Do galho, voou para o ninho, onde estava a mãe. No dia seguinte fui visitar a família. Olhei cuidadosamente dentro do ninho. Estava vazio.





A família tinha partido. Acho que, para o casal de corruíras, a cena mais querida era precisamente aquela: o ninho vazio. Os filhotes não mais dependiam deles.



Podiam voar, voar, por conta própria. Gibran Khalil Gibran, no seu livro, O Profeta, tem um lindo texto sobre os filhos que se tornou clássico. Nele ele diz algo mais ou menos assim: "Vossos filhos não são vossos. São flechas.



Vós sois o arco que dispara as flechas". Bonito mas errado. Nossos filhos não são flechas. Porque flechas, ainda que disparadas, vão na direção que o arco indicou.



Mas os nossos filhos não vão na direção que escolhemos. O certo seria: "Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se transformam em pássaros. Voam para onde querem". Somos diferentes das corruíras. Ficamos no ninho e queremos que os filhos voltem. Você é ninho. Deseja que os filhos voltem, agradecidos. Mas os seus filhos estão descobrindo as delícias do vôo.



O livro de Eclesiastes, sagrado, diz que "para tudo existe um tempo certo. Há tempo de abraçar, há tempo de deixar de abraçar". Você está vivendo o tempo de abraçar. Seus filhos estão vivendo o tempo de deixar de abraçar.





A exigência de amor obrigatório são gaiolas. Pássaros fogem de gaiolas. Só amam as gaiolas pássaros que não sabem voar. Se formos apenas ninhos, sem gaiolas, eles voltarão. Não agora. Pois agora é o tempo da descoberta da liberdade. Pássaro que descobriu a liberdade não pensa nem no papai nem na mamãe. É preciso deixar ir para que eles queiram voltar. Voltarão, quando tiverem saudade. Acredite em mim. Não falo teoria. Falo experiência própria... Aprenda a ser você sem mendigar gratidão dos filhos.



Aprenda a voar sozinha. São belas as aves que voam sozinhas." Bem-aventuradas são as mães que vivem e ensinam aos seus filhos e filhas o amor que serve como fundamento, força e segurança para alçar o vôo em direção à independência e auto-afirmação. Bem-aventuradas são as mães que vivem do amor que é graça, isto é, que não exige retribuição. Paz&luz! Noctívagu's®  





O VAZIO E A FALTA DA CONSTÂNCIA OBJETAL MATERNA 





Quando observadas do ponto de vista das fases evolutivas de Margareth Mahler, podemos dizer que as características mais fortes de desordem de personalidade Borderline (TPB) é um sentimento de falta de identidade, um vazio penetrante, uma raiva excessiva e a inabilidade para regular as emoções e, principalmente, para controlar os impulsos.



A fonte destes sintomas é uma fixação poderosa no período da simbiose com a mãe e que não permitiram a estabilização na fase de individualização, mais exatamente na subfase de reaproximação.



A subfase de reaproximação é onde a fixação fica aparente, mostrando que a origem da fixação foi a fase simbiótica. Observa-se nesse indivíduos um conflito bem claro entre dependência e independência.





O VAZIO E A FALTA DA CONSTÂNCIA OBJETAL MATERNA



Como a subfase de constância de objetal não se desenvolveu no indivíduo Borderline, ele permaneceu fixado na subfase de re-aproximação. Há um movimento constante dos comportamentos de idas e voltas. Esse padrão pode ser observado naquele tipo de comportamento: “eu odeio você mas, não me deixe”. Isso ocorre porque o indivíduo Borderline não interiorizou um “objeto materno bom” (ele está vazio) e assim, quando os objetos maternos passageiros perdem a força, surge um pânico, um comportamento que leva o indivíduo a perseguir o objeto.



Nós poderíamos resumir este processo da seguinte forma: "Se você consegue me segura é porque você me ama, mas se você não consegue me segurar é porque você me odeia.” O Borderline precisa se reabastecer de elementos maternos durante todo o tempo. Isso pode ser visto claramente quando esses pacientes seduzem o terapeuta para obter alguma atenção materna.



Podem, por exemplo, contar casos onde eles estiveram em perigo visando obter algum tipo de cuidado materno. Se o terapeuta falha em fornecer essa atenção, como uma criança, o paciente borderline vai ficar furioso.



É impressionante observar como uma criança normal, quando tem a intenção de obter afetos maternos, é capaz extrair de consegui-los a partir do contato e da participação da mãe.



Às vezes, a criança luta contra adversidades consideráveis e incorpora todo estes elementos em canais libidinais para a organização progressiva da sua personalidade. O indivíduo Borderline se comporta como uma criança normal na aproximação com o terapeuta.



O grande problema que o psicanalista vai enfrentar é que a aproximação ativa e a captura de provisões maternas são estados crônicos que não se modificam, e assim, drenam as reservas da relação terapêutica.



Cedo ou tarde a relação terapêutica com o indivíduo borderline vai retomar o curso incerto da crise de reaproximação que é mais comum e apropriada nas crianças e não nos adultos. O que pode parecer ser uma regressão para o terapeuta é de fato a fixação que se estabeleceu na infância.





RAIVA



O marca oficial do indivíduo Borderline é a raiva. Raiva que surgiu quando a criança teve que separar-se ( renunciar à crença na órbita materna), sem que esse processo fosse compensado pela internalização da constância objetal, justamente porque a resolução da subfase de re-aproximação falhou nos seus propósitos.





A raiva nasce do constante fracasso em estabelecer uma sintonia entre o ambiente e os aspectos inatos do self da criança.





A criança em outras palavras, não conseguiu o que precisava por causa de problemas de sintonia com o objeto de amor primário (mãe), ou porque sofreu algum tipo de abuso ou negligencia.





A diminuição da raiva está diretamente sincronizada com o aumento do suprimento afetivo maternal no ambiente e depois com a capacidade do objeto internalizado de manter esse suprimento afetivo.





Considerando que não existe a noção de constância objetal no indivíduo Borderline, a modulação constante do amor para desativar ou atenuar a raiva também não existe. A retenção da raiva é substituída pela retenção do carinho materno. Temos que nos lembrar que não existe um objeto sem a atenção externa.





Dizendo de outro modo, o indivíduo Borderline não pode conter a sua raiva porque, de forma semelhante, ele não pôde apreender e manter um objeto estável e constante. A raiva tem como finalidade eliminar as experiências positivas nas relações com os objetos e manter a predominância da mágoa sobre os sentimentos amorosos.





As experiências boas não conseguem interferir e modificar a armação da estrutura psíquica. Esta é a razão pela qual nós observamos uma constante instabilidade afetiva nos indivíduos Borderlines. Seus humores são fluidos e podem começar ou terminar abruptamente numa relação direta ao sucesso ou fracasso da busca de aproximação.



TRATAMENTO





A meta do terapeuta que se propõe a tratar de um borderline é experimentar e desenvolver uma sintonia com o paciente.





Por validações e constantes reflexões positivas, uma boa e forte aliança terapêutica pode ser construída. Um dos sinais de uma aliança terapêutica forte é o ressurgimento da subfase de aproximação que avançará para a fase de reaproximação. Mas para utilizar essa abordagem é extremamente importante conhecer os detalhes dessas sub-fases descritas por Margareth Mahler.





Quando as coisas não vão bem o psicanalista poderá ver acender-se a chama da raiva que ficou mais distante na medida em que a aliança terapêutica foi desenvolvida. Se a raiva do Borderline não for contida, pode tornar-se uma bomba que explode.



Porém, o psicanalista pode conter a raiva através da fusão da Riva com o amor que pode ser obtido pelo ambiente de sustentação. Sem a fusão da raiva com o amor nenhuma modificação será possível na estrutura psíquica. O efeito negativo foi reprimido, como eu disse, por uma falha da mãe em interpretar os símbolos da criança (falha de sintonia) ou abuso e esses aspectos devem ser “ressuscitados” no ambiente de sustentação.





Se o terapeuta tiver êxito, a raiva dos aspectos negativos do objeto pode ser transformada na construção da constância objetal. Geralmente os psicanalistas começam a enfrentar problemas quando eles “ estão inseguros quanto à possibilidade de transtornar o paciente” e por essa razão, empregam todos os tipos de táticas (inúteis) para manter um afeto positivo no paciente.





O ambiente de sustentação que deveria ser construído para facilitar a fusão não é construído e assim, não está disponível para ser utilizado. As sessões nessas condições, são monótonas, enfadonhas e mortas. Alguns terapeutas acabam apenas criando uma relação onde ocorre apenas um “bate-papo”. Isto não funciona. O surgimento do calor emocional e o uso hábil das ferramentas do psicanalista ( o conhecimento minuciosos do processo de separação e individuação) permitem , ao terapeuta modificar o paciente.





Trabalhar com o indivíduo Borderline é uma arte minuciosa. A atenção aos detalhes das comunicações e da linguagem corporal, o equilíbrio adequado na condução e a observação correta do timimg do paciente é que vão determinar se vamos ou não chegar a algum lugar seguro.





Ser paciente e criteriosos em momentos mais delicados e perigosos é uma boa forma de estabelecer a promoção de afetos positivos (transferências positivas) que vão manter o ambiente necessário para o sucesso do tratamento. Em outras palavras, a força da aliança e a habilidade para se conseguir fazer algo pelo paciente estão baseados na emoção positiva que o paciente tem em relação ao Terapeuta.





Se o psicanalista avançar além das condições de suportabilidade (trasnferências negativas), do paciente, poderemos ter um problema com a geração de ódios e raivas que poderiam ser evitadas. Aqui, toda a habilidade do terapeuta deve sem empregada em beneficio do paciente.





O psicanalista pode empregar técnicas desenvolvimentais para re-formar as estruturas psíquicas, mas elas devem ser aplicadas e mantidas dentro do ambiente de sustentação. Porém, o terapeuta não deve ser imprudente e subjugar o paciente com afetos negativos porque, nesse caso, a aliança terapêutica pode sofrer uma séria deterioração e não pode ser consertada. Um paciente Borderline começou a induzir o psicanalista e vê-lo como alguém que não tinha competência de responsabilizar-se por si mesmo.





A psicanalista começou a fazer o jogo sem se aperceber do fato. Tratou-o como alguém que não podia responsabilizar-se por si próprio. Isso gerou raiva e desconfiança no paciente. Foi só após ter atuado a as angustias do paciente, ficar bastante perturbado e sentir a raiva dele na contratransferência que o psicanalista pode sentir a deterioração da aliança terapêutica e o desespero do paciente de estar perdendo a única possibilidade de recuperar-se.







Esclarecidos os fatos envolvidos na situação, a aliança terapêutica pede ser mantida porque ainda não havia sofrido grande deterioração. Em algumas ocasiões o uso de afetos positivos em substituição aos afetos negativos, pode preservar a aliança. Isto dará ao paciente uma chance de refletir e reagrupar os objetos internos positivos que poderão contribuir na construção da constância objetal.



Esse tipo de sintonia possibilita a resolução da crise de aproximação que instala e pode ser identificada por repetidas regressões e progressões, indisponibilidade e disponibilidade, raivas e calmas, confianças e desconfianças. São essas idas e vindas constantes com o terapeuta que produzem os derivados que permitirão a formação da constância objetal. Em geral, no inicio do trabalho com os pacientes Borderlines, existe um grande trabalho investigativo desses pacientes no sentido de saber se o psicanalista é confiável. Qualquer movimento que gere insegurança ou ato que crie dúvidas pode ser desastroso para o tratamento.





Mario Quilici

psicanalista, é um pesquisador independente e ativo do desenvolvimento infantil e de como os distúrbios do vínculo entre os Bebês e seus pais podem levar ao surgimento de psicopatologias na medida que impedem um adequado desenvolvimento emocional e conseqüentemente da personalidade. Desenvolve trabalho clínico com adultos, casais e famílias bem como com orientação de pais. Dedica-se também ao estudo de neuropsicologia e psiconeuroimunologia.







Entendendo a complexa relação de ambivalência entre mãe e filha. 









MISTÉRIOS DA FEMINILIDADE: A RELAÇÃO MÃE E FILHA NO DIFÍCIL CAMINHO DO “TORNAR-SE MULHER” MYSTERIES OF FEMINILITY: THE RELATIONSHIP BETWEEN MOTHER AND DAUGHTER IN THE DIFFICULT PATH OF “BECOMING A WOMAN”





-------------------------------------------------------------------------------- Doris Rinaldi* O livro A Relação Mãe e Filha, de Malvine Zalcberg, destaca-se por abordar o tema da construção da feminilidade por um viés pouco examinado na literatura psicanalítica: o da “relação entre mãe e filha”. Desde que a função paterna – operadora estrutural do Édipo, decisiva para a constituição do sujeito – teve sua importância devidamente restituída por Lacan em sua releitura da obra freudiana, a análise do lugar da mãe ou da função materna na formação subjetiva foi deixada para segundo plano pelos psicanalistas em suas formulações teóricas.





Sensível à sua experiência clínica – juntamente com o testemunho de obras da literatura, do teatro e do cinema que evidenciam a extrema relevância dessa relação para a compreensão do difícil caminho percorrido por uma menina em busca de uma identidade feminina –, Zalcberg retoma esse filão em um exercício produtivo de articulação entre teoria e clínica, através do qual constrói o seu texto. Como resultado, oferta-nos uma análise rica de exemplos e, ao mesmo tempo, rigorosa no trabalho teórico. A questão feminina ocupa um lugar especial no conjunto da obra freudiana, ao mesmo tempo impulsionador de sua produção e seu ponto de impasse. Se a psicanálise nasceu no ventre das histéricas, como diz a autora, a histeria “possibilitou não apenas a existência de uma clínica freudiana, como também o nascimento de um novo olhar sobre a feminilidade” (p. 15). A escuta das histéricas introduziu Freud nos mistérios do desejo humano, que ele procurou decifrar por diferentes caminhos, inaugurando um novo campo de saber, mas trouxe também um ponto de opacidade que se colocou, ao mesmo tempo, como limite a este saber e como causa de sua produção.







Neste ponto cego, o enigma do desejo feminino desafiou Freud em toda a sua trajetória. Se no início ele buscou encontrar a chave da sexualidade feminina, ainda que reconhecendo que isso era muito mais fácil para os artistas, mais tarde ele constatou que pouco sabia sobre a vida sexual da menina, usando a metáfora do “continente negro” para referir-se ao mistério da feminilidade: “Que não nos envergonhe essa diferença; com efeito, inclusive a vida sexual da mulher adulta continua um continente desconhecido (dark continent) para a psicologia” (FREUD apud ZALCBERG, p. 25).







Até o final de sua obra, Freud manteve aberta a questão sobre o desejo feminino, expresso na pergunta que dirigiu à princesa Marie Bonaparte: “O que quer a mulher, afinal?” (1925). No texto terminal, “Análise Terminável e Interminável” (1937), quando defrontou-se com os limites do trabalho analítico, localizou neste ponto de impasse o que chamou de “repúdio à feminilidade, uma parte do grande enigma do sexo”(1). Zalcberg tece a sua escrita tendo essa questão como pano de fundo, o que a leva a considerar a mulher uma “metáfora privilegiada do inconsciente” (p. 19), já que sua verdade, como a verdade do inconsciente, não pode ser toda conhecida. Instigada pela clínica e seguindo o conselho de Freud de consultar os poetas e os artistas para saber mais sobre a feminilidade, examina os encontros e desencontros entre mãe e filha no permanente trabalho de “tornar-se mulher” levado a efeito por cada menina, trabalho este ao qual a mãe também está submetida pela sua condição feminina. Não se trata, portanto, de uma relação dual, mas de uma relação ternária, já que a mãe é, também, mulher.



É este terceiro termo – mulher – que constitui o ponto central de perspectiva que guia sua análise. Com isso, a autora pretende oferecer uma base para a compreensão do lugar privilegiado que a figura materna ocupa no processo de feminilização de sua filha. Seguindo rigorosamente a evolução do pensamento freudiano sobre a sexualidade feminina, Zalcberg nos mostra como Freud inicialmente atribui à relação com o pai o desenvolvimento da feminilidade da menina, chegando, contudo, à conclusão, ao final de sua trajetória, que esta depende muito mais do desdobramento de sua relação com a mãe.











Por trás da intensa relação edipiana com o pai, que despertou sua atenção no caso das histéricas, ele redescobre uma relação pré-edípica da menina com sua mãe, relação essa que freqüentemente perdura por muito tempo e que marcará em grande parte o seu futuro como mulher. A pergunta que ele se faz a partir de 1925, e que Zalcberg retoma como fio condutor de sua análise, é: “por que a menina tem tanta dificuldade de separar-se da mãe?” (p. 36). Essa dificuldade pode assumir a forma cruel de uma “catástrofe”, no dizer freudiano, ou de uma “devastação”, como o diz Lacan, que pode comprometer o processo de construção da feminilidade para uma menina. Revisitando as formulações freudianas sobre o Édipo e suas diferenças para meninos e meninas, a autora observa que o primeiro objeto de amor da menina, assim como do menino, é a mãe. O amor pelo pai, no caso da menina, é secundário e resulta de uma mudança de objeto. Ambos, meninos e meninas, ocupam frente ao desejo materno o lugar de falo, o que determina que, de início, ambos são meninos para a mãe.







Esse “empuxo à virilidade” tem conseqüências para a menina que podem perdurar, mantendo sua relação intensa com a mãe através de um complexo de masculinidade. O deslocamento objetal, da mãe para o pai, nunca se faz por completo e, ainda que a intervenção paterna seja fundamental para a constituição da menina como sujeito, ela não é resolutiva de seu Édipo, não lhe fornecendo o modelo de uma identificação feminina. Esta identificação deve ser buscada em sua relação com a mãe. Após tentar analisar o Édipo feminino seguindo o modelo clássico do Édipo masculino, Freud chega à conclusão de que para a menina a elaboração do Édipo é mais complexa e ela talvez nunca chegue a sair completamente deste enredo, tanto no que diz respeito à relação edípica com o pai, como em relação ao laço pré-edípico com a mãe.







Este último fica como um resto não elaborado, mas cujas vicissitudes serão fundamentais para a compreensão dos destinos da feminilidade da menina. A autora se valerá das contribuições de Lacan à teoria psicanalítica e à análise da sexualidade feminina para aprofundar esta questão, examinando suas formulações sobre as operações de alienação e separação, constitutivas do sujeito, assim como os conceitos de grande Outro e de “metáfora paterna”. Para Lacan, o significante do desejo da mãe é um significante primordial que rege a vida da criança e a marcará para sempre. É esse significante enigmático que será substituído pelo significante paterno, através da operação estrutural da metáfora paterna que introduz uma falta tanto na criança quanto na mãe, e que possibilita a constituição do sujeito como desejante.





No caso da menina, ele vai chamar a atenção para a existência de uma certa nostalgia da filha em relação à mãe, indicando que o corte simbólico introduzido pelo pai não é total. A operação edípica deixa um “resto” no destino feminino, fazendo com que a mulher tenha mais propensão a ficar alienada no “desejo da mãe”. Zalcberg ressalta a importância que Lacan dá a esse “resto”, pois nele reside a especificidade da relação mãe e filha em um campo que se constitui “para além do Édipo”. A grande contribuição de Lacan diz respeito à descoberta de que a lógica fálica não é capaz de dar conta das particularidades da sexualidade feminina.







A mulher é, em parte, submetida à castração e, em parte, não; é neste terreno, além do falo, que o destino de sua feminilidade se decide. Daí a importância da relação com a mãe, mulher como ela. Ao final de seu ensino, como destaca a autora, Lacan afirma que “a filha espera mais ‘substância’ da mãe do que do pai, ele vindo em segundo” (p. 102). O entrecruzamento do Édipo com a lógica da castração, a partir do primado do falo, determina, desde Freud, a inexistência de um significante que simbolize o sexo feminino. Não se trata, como afirma Lacan, da falta de um órgão, mas de um símbolo específico da sexualidade feminina. Como assinala Zalcberg, Freud diz que “o sexo feminino parece nunca ser descoberto” (FREUD apud ZALCBERG, p. 69), enquanto Lacan, de forma mais radical, afirma: “A mulher não existe” (LACAN apud ZALCBERG, p. 69). Uma mulher, portanto, além da falta-a-ser que a caracteriza como sujeito falante, deve fazer face à falta de um significante específico de seu sexo, que lhe garanta uma identidade.







Na saída do Édipo, ao contrário do menino, que encontra na identificação com o pai as bases da constituição da identidade masculina, a menina volta-se para o pai, mas também para a mãe, à espera que esta lhe forneça um significante do sexo feminino. Busca inglória, porque este significante inexiste, como enfatiza a autora.









Contudo, como seu trabalho nos mostra, é junto à mãe que ela busca o recobrimento imaginário de sua falta “real” na constituição de uma imagem feminina. Como diz Zalcberg: “O processo pelo qual o olhar da mãe funciona em nível de objeto que leve à construção de uma imagem é particularmente importante para a menina; ela, mais do que um menino, depende de uma cobertura para um corpo para o qual falta um significante feminino” (p. 155). Esse processo não é sem preço, como podemos ver nos inúmeros exemplos apresentados pela autora, pois a cativação imaginária da filha no olhar da mãe tem suas conseqüências paradoxais, do sentimento de aprisionamento ao medo da perda do amor. A dificuldade de se separar da mãe – que marca o destino da mulher – tem aí sua raiz, destacada não somente por Freud e Lacan, mas também por Winnicott, autor referido na abertura do livro, com a seguinte citação: “Para toda mulher, há sempre três mulheres: ela mesma, sua mãe e a mãe de sua mãe” (WINNICOTT apud ZALCBERG, p. 6). É nos percalços da relação com esta linhagem – da “catástrofe” e da “devastação à mascarada” – que cada menina construirá o seu caminho como mulher, em um processo de invenção e criação da feminilidade.



A autora lança mão do conceito de mascarada ao final do livro, tal como Lacan o desenvolveu, destacando a sua função na constituição da sexualidade feminina – “a máscara existe no vazio em que a mulher se aloja” (p. 184) –, o que possibilita a criação de feminilidade possível. Ao discutir todas essas questões em seu livro, tecendo uma rede sobre o inabordável da condição feminina, Zalcberg nos dá um testemunho valioso desse trabalho de construção de uma feminilidade possível. Esta leitura é importante não só para psicanalistas, mas também para aqueles sujeitos que, ao se posicionarem no campo do feminino, estão engajados neste permanente trabalho de criação e recriação da feminilidade possível.  





  A síndrome do ninho vazio







 







NOTAS *Psicanalista, Professora Adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Coordenadora do Curso de Especialização em Psicanálise e Saúde Mental do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise. 1FREUD, S. Análise terminável e interminável. In: ______. Obras Psicológicas Completas de Sigumund Freud. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 287. ZALCBERG, M. A relação Mãe e Filha. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

Temas no arquivo.

Terapia não é luxo .
Por Soninha Francine
Foram duas conversas parecidas na mesma semana. A primeira, com uma moça no prédio onde moro. Sente dor nas costas há meses, em parte por estar muito acima do peso. Admitiu que come demais por ansiedade. Os médicos receitaram analgésicos e antiinflamatórios, fisioterapia, acupuntura. E terapia. “Ah, na terapia eu não vou! Fazer o que lá?” “Cuidar de você, oras. Com dor de dente, você vai ao dentista. Com sinusite, ao otorrino. A terapia ajuda a cuidar da angústia, ansiedade, insegurança.” Ela decidiu ir à consulta.No outro dia, no gabinete, o estagiário perguntou para uma assessora: “Por que você faz terapia?” Brincando, ela respondeu: “Porque eu sou louca”. Dali a dez minutos, ele perguntou, sério: “Você é louca mesmo?” A moça riu, ele ficou confuso. Contribuí com a discussão: “Ah, eu faço terapia. Eu também sou louca”. Rimos os três.As pessoas entendem “loucura” como algo divertido. Dizem que fulano “é louco” porque é esquentado, coleciona tampas de garrafa, não perde jogo de futebol nem no dia do seu casamento ou porque é muito engraçado. E o que entendem por terapia? Um tratamento para “loucos”. Já que “loucura” pode ser algo trivial, terapia vira sinônimo de luxo ou frescura. Ou é algo que se aplica aos loucos “de verdade” – nesse caso, terapia é para os casos graves, “não para minhas tristezas e aflições”.Eu passei por vários momentos de desespero na vida, mas, só no ano passado, senti que precisava de uma mão para desatar meus nós. Fiquei abismada de ver como alguém pode revelar tanto a meu respeito a partir de informações que eu mesma forneci – isto é, coisas que, em tese, eu já sabia!Não deveria ser tão espantoso. Muita coisa a nosso respeito só nos é revelada quando vemos nossa própria imagem no espelho. E a terapia ajuda a enxergar o que era impossível descortinar sozinha: os motivos mais profundos para a irritação e a tristeza, os padrões estabelecidos, as nossas reações “viciadas”.Nunca tive problemas para falar de minhas fraquezas. Sempre achei importante, por exemplo, falar de depressão. Quando tive a primeira, saber de pessoas que tinham superado uma me ajudou muito.Mesmo assim, fiquei encabulada em assumir que estava fazendo terapia. Minha agenda é acessada por várias pessoas e não tive coragem de escrever o que faria toda quinta de manhã. Anotei apenas “consulta médica”. Que boboca...Agora perdi a vergonha. Terapia não é “luxo” nem eu sou louca “de verdade”. Tenho minhas loucuras como quase todo mundo. Mas não preciso sucumbir aos desgostos da vida mais do que eles merecem. É certo ficar triste com algumas coisas. Não é certo não ser feliz nunca. Para dor de dente, dentista. Para dor da mente, terapia.
Postado por Coluna Diversidade - Nova Gazeta

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